Anjos da Lei por
Daniel Esteves de Barros.
O leitor na certa já sabe (e, se não sabe, explico agora)
que esta tentativa pessimamente sucedida de comédia, intitulada “Anjos da Lei”, contou com inspiração de
um seriado de TV estadunidense homônimo, que teve a sua exibição durante o
final da década de ’80 e início da década de ‘90 (de 12 de abril de 1987 a 27
de abril de 1991, pro caso de desejarem exatidão) e foi responsável por, entre
outras coisas, lançar Johnny Depp como ator (sim, antes dele sair cortando o
cabelo da moçada de forma excêntrica em “Edward
Mãos de Tesoura”, Depp encarnava um policial disfarçado de colegial que
aterrorizava a bandidagem nos colégios locais).
Aí vai o sujeito que era fã da série de drama-policial (veja
bem: drama-policial) oitentista e,
caso ele não tenha previamente assistido a um trailer ou lido uma sinopse (algo que eu não recomendo fazer e,
numa outra oportunidade, explico o porquê), dá com os burros n’água e se vê
diante de uma comédia que, na melhor das hipóteses, é horrivelmente apelativa e
preguiçosa.
Logo de cara percebe-se que a proposta do seriado é bastante
alterada (apesar de a base ser mantida), já que uma legenda nos informa que
começamos em 2005 e a música que se ouve no fundo é “The Real Slim Shady”, do Eminem. Os anos ’80 ficaram para trás e o
humor fácil toma conta do pedaço assim que notamos a presença da clássica (falo
“clássica” a fim de estabelecer um eufemismo para “insuportável clichê”) cena
escolar do guri nerd que convida a
garota mais desejada do colégio para o baile e acaba sofrendo bullying verbal do cara mais pop da parada toda.
Numa grande peça pregada pelo destino (na linguagem
cinematográfica isso tem outro nome: Deus
ex-Machina), o nerd-baixinho-gordinho-inteligente
e o pop-grandão-fortão-bobão, sem
mais nem menos, decidem entrar para a polícia simultaneamente (sendo que, em um
mundo menos “viajado”, o primeiro certamente iria investir em crítica de
Cinema física, medicina ou engenharia e o segundo provavelmente seria um
playboy viciado em drogas e que morreria em um acidente automobilístico durante
um “pega” qualquer). Previsivelmente (e “previsível” é uma palavra que vem à
tona durante 85% dessa produção), os dois acabam deixando os problemas da
adolescência de lado, tornam-se amigos e embarcam noutro insuportável clichê
cinematográfico: o lance das duplas opostamente complementares (que, por sinal,
funciona muitíssimo bem em sitcoms do
naipe da ótima “Two and a Half Men”,
mas que, aqui, não desce de jeito nenhum).
Com o “músculo” e o “cérebro” “ajudando-se” mutuamente, o
espectador acima citado, que pensava em se deparar com algo que o
proporcionasse boas recordações do clássico seriado, dá de cara com um humor
pastelão mega preguiçoso que se conforma em exibir as trapalhadas nada
originais armadas pelos dois, sendo que tudo acontece do modo mais forçado e
artificial o possível, diga-se.
Não obstante, o roteiro – escrito pelo ator principal: Jonah
Hill (cuja indolência nessa composição foi tamanha que me leva a crer que o
cara fumou uns cinco quilos de maconha, minutos antes de começar a trabalhar no
script) juntamente com Michael Bacall
– mostra-se tão preguiçoso que, andando pela viela cômica mais simplória o
possível, aposta no óbvio: tentar arrancar risos da platéia com piadas-prontas,
colocando o “músculo” para integrar o grupo de química do colégio e o “cérebro”
para integrar a equipe de ginástica. Afinal, como arrancar risadas do
público-médio de forma mais fácil do que colocar os dois principais personagens
em situações vexatórias nas quais um sofra por falta de aptidão intelectual e o
outro por falta de aptidão física?
No mais, o “humor” de “Anjos
da Lei” fica por conta de gags
imaturas que, inevitavelmente, vão sendo utilizadas cada vez mais em produções
de comédia sem a menor criatividade (e, neste exato momento, lembro-me de
Martin Lawrence, Adam Sandler e, principalmente, Rob Schneider), bem como: reações
excêntricas de personagens que consomem drogas, vômitos (no caso, tentativa de
vômito), piadinhas ambíguas (e, muitas vezes (tipo, na maioria das vezes), nem
se dão ao trabalho de serem ambíguas, são diretas mesmo) de cunho sexual,
situações envolvendo ejaculações e pênis e, algo pavoroso que há muito tempo
não via nos cinemas, animais indefesos “morrendo” apenas pra criar situações
que, supostamente, possam ser engraçadas (isso, é claro, se você achar
engraçado ver um monte de penas voando pelo cenário).
Pior ainda é constatarmos que a falta de originalidade não
fica só por conta do roteiro (e olha que eu deixei de mencionar muitos outros
clichês que surgem aqui, em especial um romancezinho tosco que se mostra mais
previsível do que o fato de eu sair aos sábados e voltar sempre embriagado pra
casa). Os diretores Phil Lord e Chris Miller também “colaboram” em larga escala
para fazer com que “Anjos da Lei”
atinja os mais altos patamares da falta de originalidade cinematográfica. Sem
sequer ousar um pouco, que seja, com tomadas mais audaciosas, os diretores
ainda tomam decisões risíveis, como abusar do slow motion em algumas sequências de ação e até mesmo quando
resolvem dar ênfase aos dois personagens principais estacionando e saindo do
carro no colégio pela primeira vez. O fato é que, se quiseram dar uma ênfase
dramática (o que é pouquíssimo provável, logicamente) a tais tomadas, caíram no
clichê, agora, se quiseram satirizar o excesso de heroísmo presente nas fitas
de ação, caíram ainda mais no clichê.
Quanto às atuações, é lamentável notar que Jonah Hill vem
perdendo cada vez mais a veia cômica e o carisma que havia demonstrado no ótimo
“Superbad – É
Hoje” pra encarnar o seu personagem do modo mais (adivinhem!)
preguiçoso que se possa imaginar: arregalando os olhos e os dentes a todo o
instante. Channing Tatum (que vem se especializando em protagonizar produções
com os dois pés nos anos ’80 e jogá-las na lama, assim como fez com o pior
filme do Século XXI, até o momento: “G.I.
Joe – A Origem do Cobra”) não chega a nos surpreender, pois sabemos
que, dele, não se pode cobrar expressividade. E ainda que ele mostre um pouco
(bem pouco, é verdade) de carisma neste “Anjos
da Lei”, isso não basta pra sanar a sua inexpressividade. Mas o pior em
cena é Ice Cube que, como ator, é um excelente rapper, e vice-versa. O cara chega a ser tão fraco que, pra compor
o chefe de polícia durão, apela a caricaturas como um tom de voz excessivamente
grave, olhares severos durante 95% de suas aparições e, o pior de tudo, o uso
da palavra “f*ck” mais vezes do que
se somássemos todos os diálogos dos excelentes “Pulp Fiction”, “Scarface”
e “Os Bons Companheiros”.
E só pra que não digam que detestei tudo no filme (o que faz
com que eu o considere “apenas” ruim/péssimo e não necessariamente uma ameaça a
nossas vidas), confesso que o modo como a narrativa discorre sobre as mudanças
das gerações de 2005 para a de 2012 (sim, hoje em dia a coisa muda tanto que,
em apenas sete anos, passamos por drásticas alterações comportamentais) é
bastante interessante. Logo, não tem como não despertar curiosidade o fato de
que a molecada “atual” curte “música
feita para não dançar” (palavras ditas por Jenko (Tatum) enquanto ouve a
excelente banda Foster the People ao fundo de uma festa) e os famigerados bullies de outrora terem perdido espaço
entre a galera pop (ao menos nos States), que idolatra histórias em
quadrinhos e outros ícones “nerdísticos”.
Outra qualidade de “Anjos
da Lei” é também a mais do que especial aparição de dois atores (cujos
nomes não revelarei, logicamente) que, em um dos poucos momentos da projeção,
remeterá o espectador, fã do seriado original, direto ao final dos anos ’80.
Mas o revival fica
por conta disso mesmo (além, é claro, da igreja situada ao endereço que dá o
título original à produção: “21 Jump
Street”), pois, no geral, é um filme de comédia que compila tudo o que de
pior tem-se produzido em Hollywood (e também nos filmecozinhos indie dirigidos pelo Kevin Smith), no
gênero em questão, nos últimos anos.
Avaliação: * (Filme Ruim).
Ficha técnica:
Título Original: 21 Jump Street.
Gênero: Comédia / Policial.
Tempo de Duração: 109 minutos.
Ano de Lançamento: 2012.
País de Origem: Estados Unidos da América.
Direção: Phil Lord e Chris Miller.
Roteiro: Michael Bacall e Jonah Hill, baseado
em série de televisão homônima criada por Patrick Hasburgh e Stephen J. Cannell.
Elenco: Jonah Hill (Schmidt), Channing
Tatum (Jenko), Ice Cube (Capitão Dickson), Brie Larson (Molly Tracey),
Dave Franco (Eric Molson), Rob Riggle (Sr. Walters), DeRay Davies (Domingo),
Dax Flame (Zack), Chris Parnell (Sr. Gordon), Ellie Kemper (Srta. Griggs),
Jake M. Johnson (Diretor Dadier), Nick Offerman (Delegado Hardy), Holly
Robinson Peete (Oficial Juddy Hofs), Johnny Pemberton (Delroy), Stanley Wong
(Roman), Justin Hires (Juario), Johnny Simmons (Billiam Willingham), Johnny Depp (Tom Hanson) e Peter DeLuise (Oficial Doug
Penhall).
Sinopse: Jenko (Channing Tatum) e Schmidt (Jonah Hill)
estudaram juntos, mas jamais foram amigos. A situação muda quando se
reencontram na academia de policiais, onde passam a ajudar um ao outro. Já
formados, se envolvem em uma confusão ao tentar realizar a prisão de um traficante
de drogas, que atuava no parque onde trabalhavam. Remanejados para uma divisão
comandada pelo capitão Walters (Ice Cube), onde jovens policiais trabalham
infiltrados, eles recebem a missão de desvendar quem é o fornecedor de uma nova
e perigosa droga. De volta ao ambiente escolar e atuando sob nomes falsos,
Jenko e Schmidt precisam se acostumar aos novos tempos sem perder o foco na
tarefa que lhes foi incumbida. (Adoro Cinema).
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