terça-feira, 3 de julho de 2012

Papo de Cinéfilo - Blade Runner - 30 anos


    Especial “Blade Runner” 30 anos, comentários sobre as quatro principais versões:



Hoje (comecei a escrever essa matéria em 25 de junho de 2012, ou seja, esse “hoje” pode muito bem vir a ser “ontem”), o clássico cultBlade Runner – O Caçador de Andróides” completa a sua 30ª primavera, bota a sua 30ª velinha no bolo sabor floresta negra, leva 30 puxões de orelha dos amigos pentelhos, dentre outros clichês inconvenientes ligados à idade em questão.

E é claro que este pseudo-colunista (que posta em um mês não, e noutro mês também não) que vos escreve não poderia deixar o longa-metragem – que pegou carona no sucesso de seu diretor Ridley Scott (que atualmente conta com “Prometheus” em cartaz, o qual pretendo comentar por aqui em breve), após o lançamento de “Alien: o 8º Passageiro”, embora tenha demorado para ser reconhecido, conforme comentarei em breve – órfão de uma pequena homenagem nesta coluna “Papo de Cinéfilo” (que, sim, começará a ser atualizada com maior frequência durante as minhas férias da faculdade).

Porém, desta vez não farei uma crítica costumeira. Aliás, nem sequer uma crítica farei. Pra falar a verdade tá mais pr’uma resenha que não é bem uma resenha. Não vou comentar sobre o modo como “Blade Runner – O Caçador de Andróides” se inspirou em outros clássicos da ficção-científica para compor o seu enredo.



Não vou mencionar o modo como “Metropolis” influenciou a obra-prima de Ridley Scott a realizar debates sobre a relação homem-máquina. Não vou mencionar o modo como “Alphaville” instigou a produção estrelada por Harrison Ford a realizar críticas em cima do excesso da pura razão empregada em um mundo dominado pela tecnocracia e pela cultura de consumo. Não vou içar também teses sobre os questionamentos existenciais (de onde vim? Para onde vou? O que estou fazendo aqui?) que o filme levanta em suas entrelinhas (salvo em sua versão para o Cinema EUA e em sua versão para o Cinema internacional, ambas lançadas em 1982, onde as questões são abertamente abordadas pela inconveniente narrativa em off).


Não vou comentar também sobre a visão de um futuro sombrio, sujo, infestado, marcado por uma chuva ácida que, nas raras ocasiões em que não cai sobre as cidades cyberpunk-góticas – que servem como cenário aqui (palmas para a direção de arte) – é substituída por um sol cujos raios são inibidos pela poluição local, dando sempre a impressão de estarmos emergidos em um eterno e artificial crepúsculo (palmas para a direção de fotografia). Muito menos baterei na tecla de o filme ter sido taxado de vanguardista (ou seja, à frente de seu tempo) por não ter tido o seu reconhecimento durante a sua passagem pelos cinemas da época, e sim alguns anos mais tarde, quando passou a ser cultuado por um pequeno grupo de pessoas que começou a analisá-lo mais profundamente. Muito menos ainda levantarei aquelas teses malucas (as quais eu acredito piamente, assim como creio em tudo o quanto é tese maluca e neurótica, inclusive na morte do verdadeiro Paul McCartney) que alegam que Deckard era o último dentre os seis replicantes foragidos (fato que Ridley Scott acabou, por fim, revelando em uma entrevista, no ano 2000).



Não, não farei nada disso e, caso seja de vosso interesse ler um comentário menos chulo e mais embasado sobre esta influente sci-fi, basta acessar este link (e este é um dos raros casos em que confio plenamente no Wikipédia) e ler a sinopse (que se mostra mais uma análise do que uma sinopse em si) que ali consta.

O que pretendo fazer? Bem, já que realizei uma maratona recentemente e assisti às quatro principais versões de “Blade Runner – O Caçador de Andróides”, dentre as várias outras existentes, pretendo comentar os prós e os contra de cada uma delas, conforme poderemos notar logo mais abaixo:

Versão para Cinema EUA (1982) – **** (versão ótima):



Prós: todas as críticas, influências e aspectos existenciais que mencionei acima, além de outros pontos favoráveis, bem como direção, direção de arte, fotografia e muitas outras características necessárias para podermos classificar um filme como uma obra-prima, ou meramente acima da média (que é o caso aqui), encontram-se nesta versão (e nas demais também, diga-se).

Contras: se a narrativa em off (ideia dos produtores do longa, que achavam que este ficaria muito complexo para o público se não fosse a existência dela) ganha pontos por conferir à obra um interessante clima noir, mas por outro lado torna óbvias demais certas cenas que já se explicariam por si só. Isso sem contar que Harrison Ford está longe de ser um exímio narrador (sua voz é muito grave e desajustada para tal) e que, ao explicar os propósitos existenciais dos replicantes ao final do filme, tira dos espectadores o prazer de se discuti-lo em uma singela e rústica mesa de bar (naqueles papos etílicos pseudo-filosóficos de praxe), sem ter uma certeza absoluta sobre qual seria a mensagem que a película realmente aspirava passar (algo como “2001 – Uma Odisséia no Espaço” o fez). O happy end (também ideia dos produtores), por sua vez, tira muito da credibilidade do longa que, se deixasse o futuro de seus protagonistas em aberto, proporcionaria ao seu público alvo muitos outros questionamentos.

Versão para Cinema Internacional (1982) – **** (versão quase excelente):



Prós: o “riacho de sangue”, derramado durante a morte (alerta para spoiler: quem nunca assistiu ao filme que pule tudo o que será dito a partir daqui até o próximo ponto final) de Tyrell, tira um pouco o tom moralista inserido na versão original e confere uma carga mais realista a esta daqui.

Contras: excluindo-se a cena há pouco citada, tudo é irretocavelmente igual à versão para Cinema EUA, ou seja, todos os defeitos que mencionei ao me referir àquela, repetem-se religiosamente aqui.

Versão do Diretor (1992) – ***** (versão perfeita):



Prós: Alguns fãs de Scott, diretamente envolvidos com a obra, optaram por ligar o botão da “indiferença” (não ia falar algo tão educado assim, mas poupemos as palavras de baixo calão, ok?) para os produtores moralistas e capitalistas que retalharam a obra do cineasta. Como resultado: um filme infinitamente mais introspectivo e filosófico (graças à exclusão da narrativa em off) e com um final que, mais do que convenientemente, deixa algumas pontas abertas, permitindo com que o próprio espectador as amarre do modo que bem entender. A cena envolvendo o unicórnio, ao contrário do que muitos dizem, não se revela nem um pouco fora de contexto, uma vez que, em uma fração de segundos, nos apresenta a um Deckard muito mais humano, já que o pensamento voltado à fantasia remete a um desejo de fuga da sorumbática realidade que vivia na Los Angeles de 2019 (e vale lembrar também que esta sequência é extremamente importante no que se refere à real condição de Deckard no filme (e quem nunca assistiu a “Blade 
Runner”, por favor pule ao próximo parágrafo): a de replicante.



Contras: faz falta o pequeno derramamento de sangue que mencionei ao comentar a versão para Cinema internacional. Sem contar que, se por um lado a imagem remasterizada dá um tom mais clean ao filme, por outro lado tira o charme noir e o requinte típico das produções anteriores a 1985, coisas que o longa transmitia graças à sua imagem involuntariamente granulada. Entretanto, tais “defeitos” (se é que podemos alcunhá-los de tal forma) jamais podem diminuir a nota desta magnífica versão, que, sim, merece as 5 estrelas (ou, no caso, 5 astericos) que levou).

Versão Final do Diretor (2007) – ***** (versão mais do que perfeita):



Prós: uma mescla das melhores diferenças entre a versão para Cinema internacional e a versão do diretor. Além de manter excluída a narrativa em off e o inconveniente happy end, temos também o derramamento de sangue que mencionei fazer falta na versão de 1992.

Contras: a imagem e o som desta versão ganham um banho de avanços tecnológicos audiovisuais ainda mais notáveis do que o que havia recebido na versão do diretor e o longa passa a ter a aparência de um filme produzido neste século. Contudo, é como mencionei ao comentar a versão de 1992: perde-se o charme da imagem levemente granulada, que dava à obra uma cara de clássico dos anos 1980.
Bom, é isso... e que venha o aguardadééérrimo “Blade Runner 2”, previsto para estrear nos próximos anos.






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