quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Blog entrevista Ratto

O Blog do Moraes entrevista o fenômeno de público Ratto. Veja abaixo:



Fala Ratto, tudo bem? E ai, contra pra gente como surgiu o apelido?

Em 1989 depois de sair da minha cidade natal, Lavras do sul-RS, eu me mudei para a cidade do Rio Grande-RS. Trabalhava como montador de móveis.

Um amigo da cidade de Bagé que havia se mudado á pouco tempo para Rio Grande e trabalhava no Banco Bradesco, passando pela frente da loja, me reconheceu e começamos a conversar. No meio da conversa e de eu explicar o que fazia naquele estabelecimento, ele me perguntou se eu estava ganhando bem. Eu respondi que não (lógico)!

Ele me falou que no banco estava abrindo vagas e se eu me interessaria. Eu expliquei que não tinha o grau de instrução que me qualificava para o serviço. Ele me disse que conseguiria forjar os papéis. E o mais difícil que seria o teste de datilografia, ele mesmo faria porque quem ia me aplicar o teste no banco era ele próprio.
Topei na hora. Lá eu entraria na compensação de cheques.

Mas o “meu” teste de datilografia foi tão bom que o gerente me contratou na hora e mandou me colocarem de responsável pelo setor de telex (antigamente para quem não sabe, a comunicação entre os bancos era feita através do telex, não havia a internet como é hoje em dia).  
Tive que aprender a escrever no teclado de uma hora pra outra! Foi bem difícil! Mas depois deu tudo certo, coloquei o setor em dia. Tava tudo atrasado!



Do telex fui pra o setor de ordem de pagamento, que estava uma bagunça. Também coloquei nos eixos... Pra resumir um pouco de tanto que eu era aplicado, fui cotado o segundo melhor funcionário em aproveitamento por setor do banco naquele ano. O prêmio para o primeiro colocado, era uma transferência para outra cidade. Como o cara que foi o primeiro colocado não quis a transferência, eu fui contemplado.

Esse cara trabalhava na compensação de cheques e seria transferido para o mesmo setor do banco da outra cidade. E somava absurdamente rápido. Nesse meio tempo sem saberem da desistência do rapaz, a conversa era que iam mandar um cara que somava tão rápido que ia deixar todo mundo louco, mas eu não sabia bulhufas de máquinas de soma.

Resultado: quando eu cheguei na agência, todo mundo ficou de olho pra ver eu somar, pensando que ia sair até fumaça da máquina de cálculo. Eu sem saber da confusão, comecei a teclar, tec, tec, tec,...(detalhe usando apenas o dedo indicador)  na maior lerdeza do mundo, me adaptando a máquina. Os caras caíram na gargalhada e ainda comentaram:  –Ele vai nos deixar loucos mesmo!!!



No final da compensação sempre havia erros muito altos no fechamento, e a gente tinha que conferir tudo de novo. Mas geralmente os erros estavam nos meus bolos de cheque, SEMPRE!!!
Tinha uma gíria pra quem é muito distraído ou erra muito “ratiar”, tipo “esse cara ta ratiando”. Daí pra começarem a me chamar de rato foi um pulo, comecei a ficar puto com o apelido e aí sim pegou de vez!

Depois de me acostumar com o apelido e após o expediente sair com a galera pra tomar uma, certo dia entramos em um barzinho com música ao vivo. Eu tinha comentado que tocava e cantava. O pessoal pediu para o dono da casa deixar eu dar uma “canja”. Toquei algumas músicas, o dono do bar gostou, perguntou  para os meus colegas de banco como era meu nome, eles disseram que era “Rato”. O cara me contratou para tocar na sexta seguinte e quando eu cheguei pra tocar tinha um cartaz: “Hoje show com Rato”. Fiquei puto da vida, mas todos já me chamavam assim e chamam até hoje!

Um certo dia passando por uma obra, eu vi que o arquiteto responsável tinha o sobrenome Ratto, com dois T’s. Adaptei na hora, para afastar a figura do bicho, que era uma coisa que me desagradava. Uuuuuufa.


Como foi o começo no Sul?


Depois de tocar nesse bar, fui convidado a fazer shows em outros, e mais outros, até começar a tocar em outras cidades do estado. Mudei pra capital Porto Alegre onde toquei muito pela noite, sempre tocando pelo interior do estado. Dos palcos de botecos, passei a tocar em palcos maiores. Intercalava entre carreira solo e de vez em quando arrumava uma banda pra me acompanhar.

Fui músico residente de várias casas noturnas da capital, até ser convidado pela primeira vez para fazer um show fora do estado na cidade de Apucarana-PR.

O show de Apucarana em 2.004 foi divisor de águas na sua carreira. Como isso aconteceu?


Essa é uma história que deixa provas que Deus tem um destino pra cada um de nós.

Em Apucarana existia uma casa noturna dentro de um shopping, chamada Societta. O filho do dono desta casa (Marcelo), ganhou de presente um CD de um tal de “Ratto”. Ele ficou tentando me achar durante um tempo, mas não obteve sucesso. Ele ia se mudar para os Estados Unidos bem na época da tragédia do 11 de setembro. Por causa deste acontecido o pai dele não permitiu sua ida.

Então ele continuou me procurando durante mais um tempo. Em 2004 catando daqui e dali, entrou em contato com o proprietário do Girasole Pub(Edgar Jr, vulgo Alemão), onde eu era músico residente á muitos anos. E conseguiu meu contato. Eu nunca tinha tocado fora do Estado!

Ele ligou e perguntou se eu tinha interesse em tocar na sua casa noturna. Eu disse que sim. Perguntou quanto eu cobrava o show. Eu pensei um pouco e com muito medo do cara me dizer que era inviável, chutei um valor X, que eu nunca tinha cobrado na vida. Questionou com quantas pessoas eu viajava. Disse que era só eu! Ele respondeu:  
–Tranqüilo!!! Mais uma aérea, hospedagem e alimentação?
Eu disse que sim, vibrando em silêncio, mas como se tivesse feito um gol! Rsrsrsrsrsrs

No dia do show, esgotaram os ingressos, ficou gente pra fora!  Sucesso!

O show foi gravado sem eu saber. Depois de alguns meses fui contratado novamente. Foram distribuídas 400 cópias para o primeiro lote de ingressos. Esses 400 CDs viraram uma febre, caiu na internet e se multiplicou assustadoramente. Todo mundo que me encontrava dizia ter o “CD de Apucarana”.

Eu não conseguia entender. Era uma época que eu levava tudo na brincadeira. Tocava com a cara cheia de bebida, fazia mais pela diversão. Repertório programado não existia. Eu tocava o que vinha na cabeça, na hora. Cada dia músicas diferentes.

Por acaso nesse dia passou pela minha cabeça tocar algumas músicas que agradariam as pessoas e nunca mais saíram do repertório dos meus shows dali em diante! Fico muito emocionado quando lembro disso!

O seu show é o retrato do gosto musical do Ratto? Como você trabalha o repertório e a renovação dele?

Sou um intérprete. Sempre escolhi músicas que gosto muito! A maioria tem uma identificação com um momento da minha vida. Dificilmente coloco músicas que os outros querem ou gostam. Tem que ter algum sentido. Até as bregas que fazem parte do repertório!

Eu não uso set list, tipo um show planejado do começo ao fim. Tenho músicas chaves que fazem parte do repertório já á muitos anos. Tais canções não podem faltar, sou xingado quando não as canto.

No momento que eu entro no palco sei a primeira apenas. A segunda, a última nem eu sei qual vai ser! rsrsrsrs

As renovações com músicas da atualidade são raras, não gosto de quase nada que é feito hoje em dia. Acho que essa é a fase mais negra da música nacional.

Nunca ouvi tanta coisa ruim!



Tenho um grande arquivo guardado, que de vez em quando abro e escolho algo que merece ser relembrado, mostrado para essa juventude que se renova cada dia mais rápido como público na noite. Prefiro sucessos antigos, do tempo que as letras e melodias eram mais elaboradas.

Como foi a escolha do repertório nos seus dois cds? Qual a importância do Canudinho para a carreira?



Na realidade são 3!

O de Apucarana como eu disse foi feito na hora, na viagem de uma embriaguez. rsrsrsrs

Tem um que foi gravado ao vivo em Fernandópolis-SP em 2006, que era pra virar um DVD. Mas foi tão mal dirigido e executado pelos responsáveis pela minha carreira na época, que para não ficar somente na lembrança, virou um CD ao vivo. Coisas que eu prefiro esquecer que aconteceram!!!

E o meu primeiro CD de estúdio que eu coloquei o nome de “Na Contramão”. Pelo fato de conter músicas dos anos 80 e 90. Porque hoje em dia gravar um disco pop rock com guitarras é totalmente contra os padrões de rádios. Porque enquanto muita gente vira a casaca conforme o barco anda e quando tá na moda, forró, toca forró...mudou pra samba, toca samba...pra axé, toca axé...sertanejo, ta no sertanejo. Eu preferi seguir a minha linha e não me “prostituir”.

A música Canudinho foi um acaso, coisas que acontecem de uma em um milhão.
Era um jingle do guaraná Antártica que quando eu ouvi pela primeira vez, era uma versão gravada pela Renata Arruda.

Os bares que eu tocava no começo da carreira tinham sons de péssima qualidade e sem potência. Chegava uma hora que a conversa das pessoas atingia um volume que engolia o meu som. A maneira de trazer de volta para mim a atenção do público, era cantando músicas de comerciais da TV. Bizarro, porque eu cantava o jingle da Cassas Pernambucanas (“não adianta bater que eu não deixo você entrar, as Casas Pernambucanas é que vão aquecer o seu lar...”), o jingle da Liquigás e mais alguns. O Canudinho estava incluso nessa brincadeira, não era pra ser uma canção levada a sério, pelo menos eu não levava.

Não é cuspir no prato em que comeu, mas não gosto de carregar esse estigma de “o Ratto do Canudinho”. Parece sobrenome. rsrsrsrs

Quando você percebeu que precisava de uma banda para te acompanhar após tanto tempo sozinho no palco?



Por um tempo foi legal, mas a carreira tem que sofrer modificações periódicas pra não cair na mesmice. Como existem músicas que não podem sair do repertório, elas depois de um tempo perdem a graça, tanto pra mim (que naturalmente ouço todas as vezes que toco), quanto para pessoas que vêem o show mais de uma vez. A banda veio para dar um corpo a mais nas execuções.

Elas foram enriquecidas com solos, cadência, harmonia, um swingue bacana pra dançar! Além de me proporcionar uma diversão entre amigos.

Quais os projetos futuros do Ratto?



Em janeiro eu estréio um show novo. Como eu já disse, precisamos nos reciclar, modificar.
Depois que você coloca uma banda, começa a sentir falta de mais instrumentos para executar algumas canções. Se eu fosse contratar cantores de apoio, um naipe de sobro, percussionista, tecladista e mais alguns músicos, viraria uma orquestra. Fora que os gastos seriam muito altos, salários, transporte, alimentação e hospedagem para uma trupe deste tamanho.

Vários artistas, pra não dizer a maioria, hoje em dia usam trilhas de apoio, o famoso VA. São gravações que completam a banda com esses instrumentos que eu acabei de citar. Já estou com o sistema montado, terminando de trabalhar as trilhas no estúdio e como disse a partir de janeiro a tour 2012 será tecnológica pra caramba, com um repertório praticamente 100% novo. E, é lógico que os grandes clássicos estarão presentes pra ninguém reclamar!!!

1)      Como é tocar em Jaú? Bom show no sábado e deixa uma mensagem para a galera daqui



Tocar em Jaú é diferente, eu acho uma cidade de gosto musical eclético, eu diria
ainda,  Rock and Roll. As pessoas são animadas, se produzem, saem pra se divertir de verdade!

Gostaria de agradecer todo carinho e respeito que eu recebo cada vez que vou a Jaú. De coração fico feliz quando sou convidado a voltar!
Um grande beijo carinhoso a todos.

JOGO RÁPIDO

 - Nome: Afonso Carlos Gómez de Vargas


- Idade: 43

- Primeiro show que viu: Titãs

- Primeiro show que tocou: dos grandes, Barretos 50 anos na arena principal (75 mil pessoas).

- Show inesquecível que viu: Stanley Jordan, solo.



- Show inesquecível que tocou: Abertura do show da Ivete em Curitiba, puta clima!

- Artista do Brasil e do Mundo: no Brasil Lulu Santos e Lenine,  de fora AC/DC



- Disco Preferido: o primeiro do Jota Quest foi muito foda de cabo a rabo, isso é um disco bom!

- Música preferida: essa é difícil, tenho muiiiiitas

- A música para você é: viver feliz!!!





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