Fabio Baraldi nos presenteia com esse belo texto sobre os Meninos da Vila, campeões paulistas de 2.010
O NOVO FUTEBOL DO BRASIL
Nesses dias tão estranhos, não vi capoeiras pelo campo. Mas vi nascer do ventre da deusa bola, um novo futebol brasileiro. Novo não, porque no passado sua beleza e graciosidade já fizeram multidões saltar de alegria e satisfação, como ainda fazem os saltimbancos em suas peripécias circenses. É a reencarnação do espírito de 58, 62, 70 e 82. Só números? Não, definitivamente não. Representam uma constelação de craques. Uma época que infelizmente começou morrer 28 anos atrás no Reino de Espanha com Paulo Rossi e suas três estocadas certeiras no coração de Sarriá. Foi lá o princípio do fim. Agonizamos em 1986 e 1990 foi constatada a morte encefálica.
Os contrários que me desculpem, mas depois de 1982 passamos a viver de migalhas, de miseráveis lampejos de poucos gênios sobreviventes como Zico, enquanto suportou a tortura em seu joelho; Romário o gênio da grande área e Ronaldo, a fênix renascida das cinzas. Os últimos fora de série. Nem a engessada seleção de Parreira, nem a família Scolari, conseguiram resgatar toda verdade do nosso futebol, esse extraordinário fenômeno incoerente, onde o mais humilde dos plebeus pode alcançar a alta nobreza. Um universo onde o sucesso e o fracasso caminham paralelos separados apenas por uma tênue membrana permeável.
Amantes do futebol! Apreciadores da arte dos bretões! A alegria voltou. Dispam-se de suas paixões por um instante, e nus, sem qualquer preconceito, passem a saborear o gosto do legítimo jogo brasileiro, safra de 2010. É impossível contradizer qualquer estado que não seja de intensa admiração pelo feito louvável dos meninos da Vila. É um chamado, meus amigos! Um convite para reencontrar nossas próprias origens.
Cessem as táticas importadas do velho mundo. E que sobre pó desse enfadonho jogo de resultado. Você quer resultado? Faça um exame de sangue, tire uma chapa do pulmão. O verdadeiro apaixonado pelo futebol não se satisfaz com o resultado. Ele precisa de muito mais! Ele é um insaciável por mais alegria! Um dependente crônico por dribles desconcertantes, passes mágicos e precisos. Um apaixonado obsessivo pelo gol.
Um futebol assim pode não ser campeão todos os dias, pode até encontrar Paulos Rossis para esfriar a euforia do momento, mas será vencedor e relembrado para sempre. Os que choraram por Sarriá sempre souberam a verdade. A Itália não era melhor que o Brasil. Não foi e jamais será. Apenas o imponderável foi mais forte naquele dia. Assim é o futebol, livre, incoerente, inconseqüente e não uma equação matemática. Obrigado Meninos da Vila.
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Fábio Baraldi
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